segunda-feira, 10 de julho de 2017

MARIONETAS COMO TU

Hoje ao cimo da rua: uma mulher, e o seu cão sob o muro, a contemplar Lisboa virados para o rio; outro cão destaque com focinho e língua  de fora da janela do carro ao estacionar; mulher estrangeira junto a malas com bebé em marsupio, ambos à espera.

Hoje iniciei a semana com uma aula para os mais pequenos, dedicada ao mar.
Água. Sal. Conchas.

No caminho de regresso, dei-me conta, por um feliz acaso, que o casal de marionetas indianas tinha finalmente chegado à loja. Convidei-os a vir comigo. Descemos juntos até ao metro do Martim Moniz, onde por entre quiabos, gengibre, panos, chapéus, saias e relógios, já se viam alguns turistas a passar.

Chegada ao Chiado dirigi-me à porta dos artistas do São Luiz. Que belo o espaço: o chão do corredor, palco, plateia, jardim de Inverno, janelas sobranceiras a Lisboa. Assim iniciei hoje o meu primeiro worshop de marionetas de tamanho humano intitulado O Actor e a Dupla Presença no Teatro de Marionetas, com a encenadora/marionetista/construtora de marionetas, a norueguesa Yngvild Aspeli.

3 pessoas para manipular uma só marioneta _ o homem velho do mosquito que olha para a lâmpada, a rainha do drama na terra das fantasias eróticas, e a mulher irritada que espera pelo autocarro.
O que é que nós desejamos que o público veja? Qual a função daquela marioneta?
Actor/ objecto/ actor e objecto.


http://atarumba-teatrodemarionetas.blogspot.pt/


quarta-feira, 5 de julho de 2017

ÀS VEZES

Demasiado tempo.
O carregamento do meu passe termina este sábado. _ Sábado tenho uma festa de aniversário no Ribatejo.
As aulas dos pequenos a quem dou aulas de teatro estão para terminar breve.
As dos meus já terminaram.
E eu sorrio quando os vejo crescidos e temo pelo quão crescidos ficam num piscar de olhos. E entristeço-me de cada vez que não consigo ser melhor assim como me alegro com todas as suas conquistas.
Coisas simples, tempo, alguns nãos, e de vez em quando surpresas. Todos gostamos de ser mimados; não há limite de idade para se ser agradado (já cá faltava um chavão ;)
As aulas de yoga continuam.
No outro dia, a nossa yoguini com mais idade faleceu, a nossa Dª Cristina, com 89 anos feitos recentemente. Vivia na sua grande e histórica casa para os lados de Benfica, e quando o tempo o permitia vinha até às aulas, ao seu próprio tempo. Sentimos-lhe a falta.
Somos um pequeno grupo que se conhece mas que não se conhece completamente, e que partilhamos semanalmente um par de horas em que nos deixamos respirar, sob orientação da nossa professora Isabel. Fazer o que se gosta e tratar do corpo, parece, que opera maravilhas a longo prazo. Eu ainda tenho muito que aprender, diga-se.
Os dias sucedem quentes, às vezes as noites refrescam.
Às vezes sinto saudades que os telefones não estreitam.
Às vezes desprendo-me das distâncias com a naturalidade dos reencontros.
Às vezes peco por excesso, falta, ou efeito avestruz (só às vezes).
Às vezes a solidariedade para com a desgraça dos outros, daqueles que não nos tocam a perfurar parece distante, ainda que por protecção.
Às vezes o nosso valor precisa de um boost e nós de o reactivar.
A maior parte das vezes não basta saber onde gostaríamos de estar, mas aprender o caminho até lá.
Às vezes custa desligar ao fim do dia, outras vezes é tão simples quanto nem ligar!