quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

HÁ CRIANÇAS NA MINHA RUA

Há crianças na minha rua.
Ouço o barulho, abro a janela e espreito da varanda os gorros e casacos, mãos dadas, professoras de colete reflector. Faz frio. Lisboa espera chuva para logo, mas entretanto o sol dá o ar da sua graça como que querendo aquecer-nos as faces.

Aqui não há crianças em risco, crianças em guerra, crianças-anjo para sempre perdidas, desgraças de problemas familiares, de desempregos paternos, de necessidades educativas especiais, de consumismos implementados, de crianças-modelo-de-adultos, de adultos-humanos, nada disso.

Só o barulho das crianças que já passaram, seguido pelo barulho da rua: um avião, os pássaros, uma buzina do carro que rolou, uma pá a arrastar, uma porta que bate, uma motoreta.

Aqui há o frio que invade a casa, e me acorda.
Aqui há coisas boas, a par das outras.
Aqui ouve torradas com manteiga derretida e chá de carqueja, pés de cereja e de algo mais.
Aqui ouve crianças do lado de cá, que vão conhecendo o mundo aos poucos e que inventam países como "Moçamburgo"!

Fecho a janela.
Saio.
Levo-me para a rua.

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