terça-feira, 2 de junho de 2015

ACONTECEU-NOS FELLINI

Naquele momento foi tudo tão real, que mais inusitado era impossível.

O grande bisonte rosa devia atravessar a porta da rua, mesmo à justa e segundo cálculos precisos, mas não é que o filho da mãe se lembrou de abrir a boca e cuspir as entranhas de metal nesse instante? Um de cada lado, tu por fora, eu por dentro, entalados sem que as entranhas quisessem ser devolvidas ao interior revirado pela vertical. No cúmulo dos cúmulos: toca a campainha, o terceiro elemento por quem se esperava, mas que acreditávamos demorar - porque demoram sempre os senhores dos serviços agendados.
O animal a muito custo foi empurrado para o corredor, "horizontalizado", domado com um arame forte, novamente levantado, empurrado, empurrado até sair porta fora, até ao destino final.

Do outro lado, do lado de dentro, o senhor dos serviços disse que não os podia completar por não estarem reunidas todas as condições de segurança. Teria de se ir embora sem o trabalho concluído, e depois de tanto esforço para desimpedir a porta de entrada, e saída, seria mesmo este o seu fim! Não podia ser! Novo agendamento, mais tempo, mais dinheiro, mais incómodos...
Senhor dos serviços, sejamos imaginativos e fechemos esta torneira aqui. 
- Está bem, assim posso concluir o meu serviço por agora, e ir-me embora.
E assim foi.
Mas Fellini ainda pairava pelo ar restrito daquela casa, em constantes mudanças de exigências físicas, e o problema mantinha-se, a fuga que não o era, ainda era um problema a resolver a contra-relógio.

Compra-se parafuso que não serve. Retira-se aparelho que não cabe. Desaparafusa-se e torna-se a apertar. Até que o médico leva o paciente à oficina para reparação. Na maca, ele espera sair como novo até ao final do dia.

Nesse dia foram-me contadas algumas coisas, importantes; também me foi-me dito que Hitchcock só numa obra reuniu humor e suspense, tenho é de ver se lembro qual!



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